sábado, 15 de maio de 2021

ENTREVISTA COM UM TUAREG


ENTREVISTA COM UM TUAREG

(Touareg, nômade do deserto)

Não sei a minha idade. Nasci no deserto do Saara, sem papéis!

Nasci num acampamento nômade Tuareg entre Tombuctú e Gao, a norte do Mali. Fui pastor dos camelos, cabras, cordeiros e vacas do meu pai. Hoje eu estudo Gestão na Universidade Montpellier. Estou solteiro. Defendo pastores Tuareg. Eu sou muçulmano, sem fanatismo.

- Que turbante tão lindo!

- É uma fina teia de algodão. Permite tapar a cara no deserto quando se levanta areia, e ao mesmo tempo continuar a ver e a respirar através dela.

- É de um azul lindo.

- Os Tuareg chamavam-nos os homens azuis por isto: o tecido desbota algo e a nossa pele toma tinturas azuladas.

- Como eles elaboram esse intenso azul anil?

- Com uma planta chamada índigo, misturada com outros pigmentos naturais. O azul, para os Tuareg, é a cor do mundo.

- Por quê?

- É a cor dominante: a do céu, o telhado da nossa casa.

- Quem são os Tuareg?

- Tuareg significa ′′abandonados", porque somos uma velha vila nómada do deserto, solitária, orgulhosa: ′′Senhores do Deserto", nos chamam. Nossa etnia é a amazigh (bereber), e nosso alfabeto, o tifinagh.

- Quantos são?

- Uns três milhões, e a maioria ainda nômadas. Mas a população decresce... ′′ É preciso que um povo desapareça para que saibamos que existia!", denunciava uma vez um sábio. Eu luto para preservar esta cidade.

- O que você faz?

- Pastoreamos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino infinito e de silêncio.

- O deserto realmente é tão silencioso?

- Se você estiver sozinho naquele silêncio, ouça o pulsar do seu próprio coração. Não há lugar melhor para encontrar a si mesmo.

- Quais memórias de sua infância no deserto conserva com maior nitidez?

- Eu acordo com o sol. Aí estão as cabras do meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós levamos para onde há água e erva. Assim fez meu bisavô, meu avô e meu pai. E eu. Não havia outra coisa no mundo além disso, e eu estava muito feliz nele!

- Sim? Não parece muito estimulante.

- Muito. Aos sete anos já te deixam afastar do acampamento, para o que te ensinam as coisas importantes: a cheirar o ar, ouvir, aguçar a vista, orientar-te pelo sol e pelas estrelas. E a deixar você se levar pelo camelo, se você perder ele vai te levar para onde há água.

- Saber isso é valioso, sem dúvida.

- Lá tudo é simples e profundo. Há muito poucas coisas, e cada uma tem enorme valor!

- Então esse mundo e aquele são bem diferentes, né?

- Lá, cada pequena coisa proporciona felicidade. Cada toque é valioso. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos, de estarmos juntos! Lá ninguém sonha em se tornar, porque cada um já é!

- O que mais lhe impressionou em sua primeira viagem à Europa?

- Vi pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre se vier uma tempestade de areia! Eu fiquei assustado, claro.

- Eles só iriam pegar as malas, rs.

- Sim, era isso. Também vi cartazes de garotas nuas: por que essa falta de respeito pela mulher? - me perguntei. Depois, no hotel Ibis, eu vi a primeira torneira da minha vida. Vi a água correr e senti vontade de chorar.

- Que abundância, que desperdício, né?

- Todos os dias da minha vida tinham consistido em procurar água! Quando vejo as fontes de enfeite aqui e ali, ainda sinto dentro uma dor tão imensa...

- Tanto quanto isso?

- Sim, eu sei. No começo dos anos 90 houve uma grande seca, os animais morreram, caímos doentes... Eu teria uns doze anos, e minha mãe morreu... Ela era tudo para mim! Contava-me histórias e ensinou-me a contá-las bem. Me ensinou a ser eu mesmo.

- O que aconteceu com a família?

- Convenci meu pai a me deixar ir para a escola. Quase todos os dias eu caminhava quilometros. Até que o professor me deixou uma cama para dormir, e uma senhora me dava de comer ao passar em sua casa... Entendi: minha mãe estava me ajudando.

- De onde veio essa paixão pela escola?

- Alguns anos antes tinha passado pelo acampamento o Rally Paris-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro da mochila. Peguei e dei a ela. Ela me deu e falou-me sobre aquele livro: "O Pequeno Príncipe". E eu prometi que um dia seria capaz de ler...

- E conseguiu.

- Sim, eu sei. E foi assim que eu consegui uma bolsa de estudos na França.

- Um tuareg na faculdade!

- Ah, o que eu mais sinto falta aqui é o leite de camela e o fogo a lenha. E andar descalço sobre a areia quente. E as estrelas; ali as olhamos todas as noites, e cada estrela é diferente de outra, como cada cabra é diferente. Aqui, à noite, vocês olham para a TV.

- Sim, eu sei. O que é que de pior lhe parece aqui?

- Vocês têm tudo, mas não são suficientes. Vocês reclamam. Na França passam a vida reclamando! Vocês acorrentam-se a vida a um banco, e há vontade de possuir, frenesi, pressa. No deserto, não há engarrafamentos, e sabe porquê? Porque ninguém quer adiantar ninguém!

- Relaxe num momento de felicidade intensa no seu deserto distante.

- É cada dia, duas horas antes do pôr do sol: baixa o calor e o frio ainda não chegou, e homens e animais retornam lentamente ao acampamento e seus perfis são cortados em um céu rosa, azul, vermelho, amarelo, verde ......

- Fascinante, com certeza.

- É um momento mágico. Entramos todos na tenda e fervemos chá. Sentados, em silêncio, ouvimos a fervura. A calma invade todos nós, as batidas do coração acompanham o pot-pot da fervura.

- Que paz!

- Aqui tem relógio, lá temos tempo.

MOUSSA AG ASSARID

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LUZ!
STELA



12 comentários:

  1. Que mensagem mais linda! Quanto ensinamento em uma só história! Emocionante! Gratidão 🙏🏼❤️

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  2. Que saudade do deserto... Posso até me ver lá. Realmente aqui é muito barulhento, pessoas falam demais, pensam demais, reclamam de tudo... Preciso do meu deserto.

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  3. Que lindo,e que vontade de conhecer o deserto!

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  4. Amar a natureza,,as nossas origens, maravilhoso

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  5. Espírito evoluído! Valoriza o que tem, não se curva a materialidade terrena! Que Deus o abençoe!

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